Marta Bicho: “A diversidade de género permite um desenvolvimento mais célere das instituições do ensino superior”

8 março 2024

No dia em que se assinala o Dia Internacional da Mulher, mergulhamos melhor na vida de Marta Bicho, diretora do IPAM Lisboa. Enquanto líder feminina, Marta tem desempenhado um papel crucial na promoção da igualdade de género e no empoderamento das mulheres no mundo académico e empresarial. Nesta entrevista, vamos conhecer melhor a jornada de Marta, e explorar as suas experiências, insights e perspetivas sobre os desafios e conquistas das mulheres na sociedade contemporânea.

Como foi o seu percurso profissional e académico até se tornar diretora do IPAM Lisboa?

O meu sonho era ser bailarina, e durante muitos anos esse foi o meu foco. Quando decidi não seguir este sonho, mantive um percurso no mundo das artes durantes alguns anos, em particular, no mundo da publicidade e televisão.

Formei-me em Gestão de Empresas (Licenciatura e Mestrado) e foi para mim uma escolha natural, pois sempre considerei a gestão uma competência e conhecimento fundamentais para a evolução da economia e sociedades, e porque a minha família tinha várias empresas e sempre estive ligada ao mundo empresarial por esta via.

Quando finalizei a Licenciatura, comecei a trabalhar na inSoul, empresa dedicada às áreas da formação em desenvolvimento pessoal e profissional e consultoria organizacional. As minhas tarefas passaram pelas áreas de gestão do cliente e gestão de comunicação, e mais tarde pela formação.

A área académica surgiu por acaso, enquanto estava a estudar no Mestrado. Candidatei-me a um concurso para assistente de investigação, somente pela experiência, e com o prazo de 3 meses, que veio a estender-se por 2 anos. Foi aqui que descobri o gosto e a vontade de prosseguir uma via académica. Posso dizer que a área académica me escolheu!

Paralelamente à frequência do doutoramento em Marketing, lecionava e nunca perdi a ligação com as empresas. Estive ligada a várias instituições de ensino superiores públicas e privadas, até assentar no IPAM Lisboa. Em simultâneo, fui mentora de projetos sociais no Instituto de Empreendedorismo Social - Social Business School | IES-SBS, para além de inúmeros projetos de voluntariado e ligação com comunidades a que continuo ligada.

No IPAM Lisboa o meu percurso tem sido de evolução constante, desde o papel de professora, presidente do conselho pedagógico, diretora da Licenciatura em Gestão de Marketing, e que culminou há 3 anos no papel de diretora do IPAM Lisboa, que assumi com 34 anos. Tem sido um caminho desafiador, mas muito gratificante, pois tenho tido a oportunidade de colocar as mãos na massa e de colocar as minhas competências ao serviço da educação no ensino superior.

Quais foram os principais desafios e conquistas desse caminho?

Conciliação tem sido o principal desafio. Conciliar pessoas, projetos, objetivos, e as várias áreas da vida. Somos seres sistémicos, com múltiplas realidades, e o equilíbrio é fundamental. Por isso, a principal conquista tem sido o equilíbrio e evolução, pois para poder conciliar tive de aprender novas práticas, ferramentas e mudar a mentalidade.

De que forma encara o papel da mulher em cargos de liderança, especialmente na área da Educação e do Ensino Superior?

Considero que as caraterísticas da mulher desempenham um papel importante na liderança dos sistemas organizacionais e, em particular ,na área da Educação e do Ensino Superior.

Uma liderança no feminino é caracterizada como mais empática, flexível e assertiva, ou seja, as características naturais de uma mulher aplicadas ao papel que representa como líder.

A mulher, no seio familiar, tem sido historicamente a principal educadora, por isso, trazer esse conhecimento para a edução no ensino superior é crucial para o desenvolvimento estratégico e evolução da oferta e metodologias utilizadas no ensino superior, com impacto direto no progresso das sociedades e na adaptação às novas realidades culturais, sociais, económicas e políticas.

Quais são os principais valores e princípios que defende na gestão académica e de que forma esses valores refletem a sua trajetória pessoal e profissional?

Os principais valores e princípios são os mesmos que me norteiam enquanto pessoa e profissional: equidade, empatia, intuição, flexibilidade, sentido positivo e construtivo e energia.

Na sua opinião, quais são os maiores desafios enfrentados pelas mulheres em cargos de liderança em instituições de ensino superior? De que forma é que os supera?

Na minha opinião, os desafios enfrentados pelas mulheres em cargos de liderança em instituições de ensino superior estão na renovação constante que é necessária para responder aos desafios atuais e futuros, e em simultâneo corresponder ao sistema e exigências vigentes, que nem sempre acompanham as necessidades de inovação e atualização, seja dos programas curriculares, seja das dinâmicas presentes num nas instituições de ensino superior. Por isso, o desafio é permanente, entre adaptar e diferenciar e antecipar tendências e conhecimentos de profissões que podem ainda nem sequer existir.

Qual é o impacto da diversidade de género na dinâmica e no desempenho das instituições de ensino superior?

A diversidade de género traz heterogeneidade e permite um desenvolvimento mais célere das instituições de ensino superior. Trazer diferentes perspetivas, visões, sempre tendo como princípio o propósito comum que é essencial, a meu ver, e permite com certeza ir mais longe.

A dinâmica e o desempenho das instituições de ensino superior é maior quanto cada pessoa tem conhecimento do papel que representa em prol do propósito da instituição. Naturalmente, para que tal seja possível, é necessária consciência, colaboração, cooperação e respeito mútuo.

De que forma vê o papel da educação na promoção da igualdade de género e no combate ao sexismo na sociedade? Quais são as iniciativas do IPAM Lisboa nesse sentido?

A educação tem um papel fundamental na transmissão do saber e no desmistificar de temas essenciais. Creio que a educação neste contexto deve ser visto num âmbito alargado – educação surge desde o seio familiar, e encontra-se enraizado nos sistemas culturais e sociais, e nas experiências familiares e de vida. Desta forma, penso que a educação e, no caso do ensino superior, através da investigação e ensino, tem a responsabilidade inerente de criar e difundir conhecimento no que respeita aos princípios da equidade de género. No IPAM Lisboa existe igualdade de oportunidades, baseado nos princípios do talento.

Qual é o potencial transformador das mulheres na construção de um mundo mais justo e equitativo?

O potencial transformador das mulheres na construção de um mundo mais justo e equitativo é enorme. As suas caraterísticas inerentes, tais como a empatia, a intuição, a assertividade, a flexibilidade, a capacidade de raciocínio rápido e multifocal e, ainda a consciência e gestão das emoções, quando direcionados para o desenvolvimento humano têm esse potencial transformador.

As mulheres podem construir um mundo mais justo e equitativo sendo o melhor exemplo, sem receios de serem vulneráveis ou imperfeitas.

Revolução Transformacional: Como as histórias e a tecnologia redefinem a economia
27 junho 2024
Ler mais
A nova revolução industrial: Destruição ou criação?
30 abril 2024
Ler mais

Share

Lisboa: +351 210 205 702Porto +351 220 280 502Online: +351 210 205 702